13 de fevereiro de 2011

11 de fevereiro de 2009.

Escritos durante o processo criativo do espetáculo Piaf: Accord À Corp's:

Um dos desafios do ator-bailarino é ter que representar/sentir momentos da vida, personalidade, relacionamentos, que na vida pessoal não se viveu. No caso da infância de Edith Piaf, foi difícil, tanto a escolha da foto, quanto a criação da partitura, já que ela não teve uma vida normal de criança.
Desde que nasci, meus pais nunca nos deixou sozinhos. Se eles saiam a noite, íamos; nos levavam a praia, ao supermercado, mamãe lavava roupa comigo no carrinho de bebê. Tanto que não teve outra pessoa que cuidou de mim a não ser meus pais.
O único momento, por necessidade, que fiquei sob os cuidados de minha avó paterna, foi quando eu tinha um ano e quatro meses. Eu não lembro dessa época, só sei porque me contaram. Passei três meses em Bacabal, na casa da vovó Socorro, antes morávamos em Caldas Novas e papai resolveu voltar para o Maranhão porque ficou sabendo que estavam ameaçando matar o vovô de Paula por causa de dívidas do meu tio. Nisso surgiu um concurso para a Telemar em São Luís e papai estava desempregado e não podia perder essa oportunidade, mas ia ficar na casa de uma tia minha e se fôssemos nós quatro, teríamos muita despesa. Então decidiram me deixar nas mãos da vovó.
A foto tirada nessa época, quando a vi, lembrei dos olhos tristes de Edith, o vazio, a falta de um amor verdadeiro, que só vem dos pais.
E temos até uma coisa em comum, fomos criadas em um momento da vida por nossas avós paternas. Ela foi por um longo tempo e o relacionamento entre elas era distante, sem carinho. Já o meu, minha avó até propôs a meus pais de me criar, não queria que eu fosse embora. E uma história que a mamãe me contou foi que quando ela veio me buscar, não a reconheci, demorou um pouco pra eu lembrar quem era ela. Muitos anos depois, quando morei novamente com a vovó, já adolescente, ela desabafou dizendo que sempre fui uma ingrata porque ela cuidou de mim quando criança e depois que meus pais   me levaram, quando a revi nem olhei para ela.
É uma mágoa que  ela carrega até hoje e talvez por isso, nosso relacionamento seja muito difícil.

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